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A ecodramaturgia é uma vertente contemporânea das artes performativas que articula dramaturgia e ecologia, com o intuito de provocar uma reflexão crítica sobre a relação entre o ser humano e o meio ambiente. Num contexto de crise climática global, perda de biodiversidade e esgotamento dos recursos naturais, esta abordagem teatral emerge como uma resposta artística, ética e política às urgências ambientais do nosso tempo.

O termo ecodramaturgia resulta da junção entre ecologia e dramaturgia. Apesar de ser ainda uma área em consolidação, especialmente no panorama lusófono, tem vindo a ganhar cada vez mais relevância nos últimos anos, tanto no plano académico como artístico. A ecodramaturgia não se limita a abordar temas ambientais; ela propõe uma mudança na forma como concebemos a criação artística, questionando o papel do ser humano no ecossistema e promovendo práticas sustentáveis no fazer teatral.

A ecodramaturgia tem raízes nas mudanças de consciência ecológica ocorridas a partir da década de 1970, em simultâneo com o fortalecimento dos movimentos ambientais, feministas e anticoloniais. No teatro, esse despertar traduziu-se inicialmente em narrativas de denúncia da destruição ambiental, mas evoluiu para propostas mais sensoriais, relacionais e holísticas.

Com o aprofundamento das alterações climáticas e a emergência de discursos em torno do Antropoceno, muitos artistas passaram a considerar a ecologia não apenas como tema, mas como prática. A ecodramaturgia moderna envolve, assim, um duplo compromisso: com os conteúdos que representa e com os modos de produção, procurando práticas mais conscientes e menos agressivas para o planeta.

Principais características da ecodramaturgia:

  1. Temática ambiental: Muitas obras abordam diretamente temas como a crise climática, a escassez de água, os incêndios florestais, a perda de biodiversidade ou os impactos da industrialização.
  2. Descentralização do humano: Ao invés de colocar o ser humano no centro da narrativa, a ecodramaturgia procura reconhecer a agência de outros seres e entidades naturais – como animais, florestas ou rios – propondo uma visão mais ecocêntrica.
  3. Sustentabilidade na produção teatral: Desde o uso de materiais reciclados na cenografia até a adoção de iluminação natural ou a redução do consumo energético, estas práticas procuram coerência entre discurso e ação.
  4. Estética imersiva ou site-specific: Muitos espetáculos ecodramatúrgicos ocorrem ao ar livre ou em espaços naturais, buscando aproximar o público da natureza não apenas de forma simbólica, mas sensorial e física.
  5. Diálogo entre arte e ciência: A ecodramaturgia frequentemente cruza saberes e disciplinas, incluindo conhecimentos da ecologia, geologia, biologia, filosofia ambiental e até cosmologia.

A ecodramaturgia não é apenas uma nova tendência estética; é uma forma de ativismo artístico que questiona os modos de vida contemporâneos e propõe outras formas de pensar o mundo. Ao colocar a natureza em cena – não apenas como cenário, mas como sujeito – esta prática convida-nos a reconsiderar o nosso papel como espécie e a nossa responsabilidade para com o planeta.

Num tempo em que o colapso ambiental deixa de ser uma previsão e se torna uma realidade, a ecodramaturgia propõe uma resposta sensível e crítica, abrindo espaço para o diálogo entre arte, ciência e comunidade. Em Portugal, este movimento está em crescimento, revelando que o teatro pode ser uma poderosa ferramenta de transformação ecológica e cultural.

No contexto português, o Teatro Nacional D. Maria II tem vindo a integrar esta reflexão através do projeto europeu STAGES – Sustainable Theatre Alliance for a Green Environmental Shift, que promoveu novas práticas sustentáveis nas artes performativas, cruzando arte e ciência. Uma das criações resultantes deste processo foi “Uma peça para quem vive em tempos de extinção”, de Katie Mitchell e Miranda Rose Hall, reimaginada localmente por artistas portugueses. O espetáculo propôs não apenas uma reflexão sobre o colapso climático, mas também um modelo de produção ecologicamente consciente, sem viagens de artistas ou materiais, incorporando também práticas de geração de energia em cena.

 

Ricardo Cabaça

(fotografia de Oliver Ulerich)

 

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