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Olga Roriz: narrativas do corpo

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Parece que fujo do meu corpo”, escreveu Olga Roriz (28 de Junho de 2014, Leiria), no caderno que acompanhou a criação de A Sagração da Primavera, solo que fez para si mesma. Foi a última vez que dançou… mas está longe de ser a sua despedida da dança. Olga mergulhou no excesso do sentir, por via da dança, na ópera do Teatro São Carlos, ainda menina. Esse foi apenas o início de um percurso marcado por uma intensidade sensível, um querer perceber o Mundo, onde o corpo se fez tela de muitas narrativas, que desenvolveu primeiro no Ballet Gulbenkian (1976-1992), depois na Companhia de Dança de Lisboa (1992-1995) e, desde 1995, na sua Companhia Olga Roriz. A partir de Outubro de 2013, Olga inicia o programa de estudos FOR Dance Theatre. No seminário O sentido dos mestres (Festival de Almada, edição de 2018) está lá essa experiência de vida que é um mergulhar cada vez mais profundo na eloquência do corpo, numa dança de intimidade com outras artes, como o teatro ou o cinema, e de intimidade consigo própria - que os cadernos testemunham. É essa relação de intimidade, em que desenvolve um pensamento sobre o corpo e a composição em dança ao longo de mais de 50 anos, que este livro regista, revelando um lado menos conhecido da coreógrafa: a estruturação do trabalho em conceitos, como a ideia de uma “dança pós-mimética” (por relação com o “teatro pós-dramático” de Hans-Thies Lehmann), a persistente recusa do bailarino-máquina, a “pesquisa fora do pensamento”, “os pontos de atracção”, ou ainda a abordagem da criação como um “objecto de desejo”.

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